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8 abr 2020
Exposições

 
 

Dialogo no Escuro

No Diálogo no Escuro, sempre explicamos que as Exposições e Workshops não são realmente uma simulação da cegueira, mas um exercício de comportamento emocional e contigencial. Mais do que experimentar a cegueira, quando nossos visitantes entram na escuridão, eles são confrontados com suas emoções, pensamentos e ações, à medida que mergulham em uma realidade desconhecida e incerta.

Sinceramente, nunca pensei que chegaria o dia, e aqui estamos nós, com uma contingência tão poderosa e igualitária. Aqui estamos nós, a maior parte da humanidade, imersos não mais em um exercício experimental, mas sim imersos na realidade, com nossas certezas e fundações cambaleando.

A Covid-19 e a escuridão têm algumas coisas em comum. A escuridão tem um poder que nos torna iguais, ou seja, quando apagamos a luz, cegos e não cegos estamos envolvidos na mesma realidade. Ninguém, a menos que tenha uma visão noturna milagrosamente concedida, pode ver mais do o outro. Esse vírus é igualmente imparcial, pois não distingue cor, religião, gênero, classe social ou se temos pouco ou muito na carteira. Um vírus lamentavelmente inclusivo!

Para contribuir com o seu momento atual, compartilho com você alguns recursos e ferramentas que os guias e facilitadores cegos temos usado nas vivências imersivas do Diálogo no Escuro (Exposições e Workshops no escuro), com base em nossa experiência de viver em constante contingência devido a uma deficiência:

1. Aceitação incondicional: Para aqueles que perdem a visão, ou que nascem sem ela, aceitar essa circunstância se torna vital. O que podemos fazer para recuperar o nosso sentido da visão? Não muito, a menos que sejamos médicos ou possamos conduzir ou impulsionar programas de pesquisa e desenvolvimento para reparar retinas e outras partes do olho. Ao aceitar que nossa condição é como é, e que não cabe a nós remediá-la, entendemos que o que podemos mudar é como nos relacionamos com nossa deficiência. Hoje, temos que aceitar, por qualquer motivo, que esse vírus se tornou uma pandemia e que a única coisa que podemos fazer para erradicá-lo ou controlá-lo é seguir as recomendações já conhecidas. Vamos seguir as regras, mesmo que envolvam alguns sacrifícios. Vamos aceitar e pensar a longo prazo o que é melhor para todos, porque em uma sociedade interconectada como a de hoje, o que é melhor para todos também é melhor para mim.

2. Medo: Ficar cego é, obviamente, uma experiência terrível. Qualquer um de nós, guias que perdemos a visão, lembramos que eram dias e dias terríveis, semanas de choro, semanas de desesperança e até anos de pensamentos catastróficos. O que a vida nos ensinou é que, apesar da cegueira, há luz se continuarmos caminhando, há luz se continuarmos tentando. Faz parte ter medo, é claro, mas não se pode desistir!

3. Procure companhia: Quando você entra no escuro, deixando de ver os outros e sendo vítima de suas emoções avassaladoras, a pessoa se sente irremediavelmente solitária. No entanto, mesmo que você não possa ver ninguém, se você se acalmar e ouvir, sempre encontrará alguém ao seu redor. Nesses momentos, vamos procurar as pessoas que nos acalmam, as pessoas que nos ajudam a pensar, as pessoas que nos injetam energia e não percamos contato com elas, mesmo que seja virtual.

4. Reconheça seus limites: Muitos de nossos visitantes, quando entram na escuridão, nos dizem que estão com dor de cabeça ou que estão vendo cores. Esse fenômeno ocorre porque eles estão tentando ver no escuro. Eles NÃO estão reconhecendo seus limites e forçam sua visão a ponto de causar dor ou pequenas alucinações de luz. Reconheça que você não pode ver. O que você pode fazer? Usar seus outros sentidos, interagir com as pessoas que estão próximas, ser curioso, ouvir seu guia, etc. Da mesma forma, nos dias atuais, certamente estamos nos apegando a esticar limites que não seremos capazes de superar - já queremos sair de casa; já queremos abraçar amigos; já queremos que o trabalho volte ao normal; que a economia se reative; evitar ser infectados. Conseguir isso não está cem por cento em nossas mãos. Vamos aceitar nossos limites e identificar o que podemos fazer: ficar em casa; reduzir o contato físico o máximo possível; ajustar nossa economia; propor idéias inovadoras em nosso trabalho para sairmos da crise; manter a calma; estar em constante contato virtual com as pessoas.

5. Encontre um guia: As pessoas cegas, no contexto do Diálogo no Escuro, recebem o papel de guia especializado, porque vivemos uma realidade sem imagens e desenvolvemos recursos sensoriais e comunicativos que nos permitem atuar nesse ambiente. Se você entra na escuridão total, um companheiro cego certamente é seu melhor guia. O período atual é um bom momento para encontrar um guia. Pode ser um amigo, alguém da nossa família, um conhecido, um coach, uma celebridade ou alguém que admiramos. O ponto é que essa pessoa nos faça sentir seguros, acompanhados, otimistas e que nos ajude a tirar o melhor proveito dessa crise.

6. Aprenda a encontrar o bem e seja grato: Perder a visão é muito importante, é claro. No entanto, não poder enxergar dá a você a oportunidade de perceber aromas e texturas de uma maneira mais vívida, dá a oportunidade de conhecer profundamente as pessoas sem preconceitos visuais, dá a oportunidade de saborear as palavras que alguém lhe diz e desenvolver habilidades como memória e audição. Somos cegos, mas ainda temos um milhão de coisas para agradecer. No momento em que estamos passando por situações muito complicadas, não duvido, mas vamos achar pelo menos duas ou três coisas para agradecer todos os dias: que temos um teto; que estamos com pessoas que amamos; que permanecemos saudáveis; que temos dinheiro para ficar bem; temos comida na mesa; ou outros.

7. Ressignificar: Muitos de nós chegamos a pensar que a vida não teria sentido sem a visão. Muitos de nós chegamos a pensar que nosso futuro seria infeliz se não fôssemos iguais às pessoas que enxergam. Hoje sabemos que a visão não é tudo, que existem muitos outros canais para entrar em contato com a vida e desfrutá-la, contribuindo ao mesmo tempo para as pessoas ao nosso redor. Hoje, descobrimos que temos a capacidade de encontrar outros olhos para ver a vida. Certamente, muitas vidas mudaram em consequência da Covid-19 e nossa rotina foi impactada. Sem perder a esperança de voltarmos à nossa normalidade, lembremos que não há um só modo de vida, que somos incrivelmente criativos e adaptáveis e que podemos desenvolver maneiras diferentes de viver com bem-estar.

Hoje, mais do que nunca, a humanidade pode ver que estamos no mesmo barco. Hoje, mais do que nunca, podemos experimentar de maneira tangível que compartilhamos a mesma realidade. De alguma forma, muitos de nós estamos cercados pela mesma escuridão. No entanto, a escuridão, além da falta de visão ou falta de luz, é um estado mental e espiritual de confusão.

Esse é o momento de decidir, diante dessa bifurcação, se o caminho que seguiremos é isolado, individualista, competitivo e predatório, ou se é um caminho social, interdependente, colaborativo e sustentável.

Texto de Pepe Macias

Dialogue Social Enterprise – México

Publicado em 05/04/2020

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